O vazamento de informações sigilosas sobre a operação Satiagraha para a Globo e, depois, para jornais impressos mobilizou o ministro da Justiça, Tarso Genro, mas não conseguiu atingir quem deveria ter mais interesse nos rumos do jornalismo brasileiro: o público. O Tevê Aberta publicou dois textos questionando os furos constantes do repórter César Tralli relacionados a operações da PF (para ficar apenas na nossa área, a televisão aberta), com pouca repercussão. Uma das duas pessoas a comentar esses posts, a leitora Liz opinou que "é triste ver que ninguém fala nada sobre um assunto tão importante".

O jornalista Alberto Dines, âncora do programa Observatório da Imprensa, concorda em que o público não se incomoda "com esta sujeição da imprensa e da mídia eletrônica à loteria de informações patrocinada pela PF". Para ele, "o leitor quer barulho, lama no ventilador, escândalo". No artigo "Política de vazamentos pinta toda a imprensa de marrom", publicado ontem no site do Observatório, Dines lamenta o fato de haver uma "praga do vazamento 'seletivo' de documentos sigilosos, espécie de prêmio aos jornalistas bem-comportados".

Indiretamente, ele responde a pergunta feita pelo blog em abril ("Partindo do pressuposto que dificilmente uma fonte passa informação desse tipo a um jornalista sem pedir algo em troca, cabe questionar: Tralli retribui essas gentilezas? De que maneira?"). A resposta é: ele e outros retribuem com o silêncio. "Aqueles que deveriam denunciar procedimentos impróprios das autoridades policiais tornam-se seus cúmplices", avalia. "É o retorno do velho sensacionalismo amarelo (no Brasil, agora marrom) que aposta no furo futuro e esquece o seu compromisso com a investigação autônoma e soberana".

A Globo se defende afirmando que aceita fazer parte dessa distribuição de informações confidenciais porque tem compromisso com "o furo e a informação em primeira mão, em benefício dos telespectadores". As perguntas, agora, ficam a cargo de Dines: "É legítimo jornalisticamente? É legítimo juridicamente? É legítimo republicanamente?". O público exige ser bem-informado — e merece ser atendido sempre, nesse e em todos os outros casos de menor ou maior repercussão. Poderia exigir também transparência dos meios de comunicação.

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3 comentários:

Anônimo disse...

estou esperando a proxima enquete

Anônimo disse...

Alguém duvida que a Globo não seja o quarto poder?

Anônimo disse...

o Alex pergunta se alguém duvida que a Globo é o quarto poder, mas seria só a Globo ou a Mídia de uma forma geral? Os conglomerados de comunicação são o quarto poder, incluindo agora a Igreja Universal.