O diretor-geral da TV Brasil, Orlando Senna, divulgou hoje comunicado à imprensa em que informa que pediu demissão do cargo, assumido há oito meses. Segundo o texto, a saída foi motivada pela "forma de gestão adotada pela empresa [a EBC, gestora da rede] que, entre outros equívocos, concentra poderes excessivos na Presidência".

Senna [na foto ao lado, na ponta esquerda, ao lado de Franklin Martins e Tereza Cruvinel] afirma que não tinha "autonomia e mobilidade" suficientes e, por isso, sugere ajustes para que a emissora cumpra "o objetivo de liderar uma comunicação pública plural, isenta, inteligente, interativa e formadora de cidadania". Entretanto, ressalva que continua sendo defensor do projeto de televisão pública.

Em abril, o jornalista Luiz Lobo denunciou "interferência do Planalto" na TV Brasil, logo após ser demitido. A diretora-presidente, Tereza Cruvinel, assume temporariamente o cargo de diretora-geral.

:: Leia trecho do comunicado de Orlando Senna

"(...) Deixo a EBC por discordar da forma de gestão adotada pela empresa que, entre outros equívocos, concentra poderes excessivos na Presidência, engessando as instâncias operacionais, que necessitam de autonomia executiva para produzir em série, como em qualquer TV. Melhor: como em qualquer empresa que opera emissoras de TV e rádio, agência de notícia, web e outros serviços audiovisuais, que é o caso da EBC. Uma forma de gestão que induziu a exoneração de Mário Borgneth, o excepcional articulador e executivo que organizou e coordenou o seminal Fórum de TVs Públicas e que, como diretor de Relacionamento da EBC, nesses oito meses, montou a estrutura de uma rede com cobertura em todo o País, baseada em novos modelos de negócio e em uma arquitetura horizontal, sem o verticalismo das redes comerciais. Uma decisão com a qual não posso concordar.

Minha saída está motivada pela consciência de que, na forma de gestão adotada, a Direção Geral, cargo que ocupei, não está provida da autonomia e mobilidade necessárias para cuidar dos aspectos operacionais da empresa, tornando-se, no atual desenho de gestão, praticamente desnecessária. Minha atitude não significa descrença no projeto, do qual continuo ardente defensor. A EBC terá de solucionar várias questões para alcançar o seu objetivo de empresa pública de comunicação moderna, democrática e financeiramente saudável. São questões no âmbito estrutural, na forma de gestão e na definição de encaminhamentos, sobre os quais enviei documento às instâncias superiores da empresa, no dia 30-05-2008, sugerindo ajustes e chamando a atenção para o caráter urgente das providências. Realizados os ajustes necessários, a EBC/TV Brasil poderá cumprir o objetivo de liderar uma comunicação pública plural, isenta, inteligente, interativa e formadora de cidadania.

Esses ajustes, esse processo de concretização do sonho de uma TV pública, de uma comunicação plenamente pública, blindada contra os poderes e interesses governamentais e econômicos, só chegará a bom termo (como todos sabemos) com a participação direta da sociedade. Nesta fase crucial de instalação da EBC a ação das entidades e das personalidades que se fizeram ouvir no Fórum de TVs Públicas, na Carta de Brasília, na aprovação no Congresso se torna ainda mais importante e decisiva. E que outras entidades e personalidades se somem a esse labor de vigilância constante e atuação propositiva, garantindo a presença majoritária da produção independente e regional na programação televisiva, radiofônica e web, a horizontalidade da rede, a independência editorial, o jornalismo isento, a vinculação da empresa a algum ministério (lutemos, por exemplo, por uma fundação pública de direito privado). (...)"


Foto de Marcello Casal Jr./ABr

1 comentários:

Anônimo disse...

Até que a Tv Brasil estava indo bem, vamos ver como fica agora.