quinta-feira, janeiro 10, 2008

Audiência: entenda como o Ibope faz a medição

Todo mundo acompanha os índices de audiência divulgados pelo Ibope, mas quase ninguém conhece a metodologia aplicada pelo instituto para apontar quais são os programas da tevê aberta mais vistos no país. Pouca gente sabe, por exemplo, que os dados minuto a minuto — aqueles que guiam as estratégias de atrações como o Domingo Legal e o Domingão do Faustão — resultam de medição feita em apenas 750 casas, todas na Grande São Paulo. Ou seja, neste caso, a audiência que conta é a dos paulistanos.

O instituto de pesquisa instala peoplemeters [foto acima], como é chamado o aparelho que registra todas as mudanças de canal, nas residências escolhidas. Os números são transmitidos em tempo real, por meio de radiofreqüência e linha telefônica, aos assinantes do serviço — na maioria, emissoras, retransmissoras e agências de publicidade. Segundo cálculo do Ibope (habitantes da região divididos pelo tamanho da amostra), cada ponto de audiência equivale a 54,4 mil residências ou 176 mil telespectadores na Grande São Paulo.

Já a coleta regular de informações, que gera boletins diários, semanais e mensais — portanto, excluindo o real time — é feita em 3.239 domicílios, distribuídos com base nos dados do censo demógrafico do IBGE e num levantamento socioeconômico do próprio Ibope. Isso significa que, entre as casas, há representantes de todos os sexos; de todas as classes (A, B, C, D e E); e de todas as idades, a partir dos quatro anos. Mas a medição só acontece na área urbana.

No fim da noite, os peoplemeters emitem um relatório com todas as mudanças de canal ao longo do dia [clique no esquema acima para vê-lo em tamanho maior]. Para essa medição, há 750 aparelhos em São Paulo, 450 no Rio de Janeiro, 300 em Belo Horizonte, 250 em Porto Alegre, em Curitiba, em Salvador, no Recife e em Brasília, 220 em Fortaleza e em Florianópolis (regiões metropolitanas).

Os donos das casas selecionadas para receber um peoplemeter são remunerados com um "salário", por conta do serviço prestado. O Ibope garante que renova 25% dos participantes da amostra a cada ano — para evitar "vícios", como alguém sintonizar apenas uma emissora em troca de dinheiro. Mas uma auditoria da Ernest & Young verificou que algumas casas chegam a ficar cinco anos com um aparelho.

O instituto divulga dois tipos de informação sobre a audiência. A primeira, e mais conhecida, inclui no cálculo os aparelhos de televisão desligados e é traduzida em pontos. Assim, somadas as audiências de cada uma das emissoras da tevê aberta num mesmo horário não se chega a 100 pontos (número máximo).

O segundo tipo de informação, chamado de share, leva em conta somente os televisores ligados. Ou seja, o dado — expresso em percentual — resulta da relação de domicílios sintonizados em determinado canal com o número de residências com televisores ligados no mesmo período. Complicado, não?

Muitas vezes, a medição feita pelo Ibope é contestada por emissoras que se sentem prejudicada diante dos bons números obtidos pela Globo. Sílvio Santos, por exemplo, já liderou uma campanha para que outros canais fundassem um instituto de pesquisa próprio, a fim de verificar um suposto favorecimento à empresa de Roberto Marinho.

O dono do SBT chegou a bancar a criação e manutenção do Datanexus. Resultado: os números se mostraram compatíveis com os do Ibope, com poucas variações. Sozinho na empreitada e sem conseguir provar um erro na metodologia do concorrente, Sílvio decidiu abandonar o negócio um ano e meio depois. Deixou livre o caminho para que o Ibope continue sendo o principal responsável por influenciar o investimento de milhões em verba publicitária e definir a programação da tevê brasileira.

Texto do Tevê Aberta originalmente publicado em 16 de setembro de 2006

1 comentários:

Anônimo disse...

queria saber se vai mudar alguma coisa com a tv digital...